sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Brasil torce por pouso suave da economia chinesa

Super aquecimento chinês pressiona inflação no País e eventual frenada brusca iria causar efeitos negativos na balança comercial brasileira.

O Brasil está "torcendo por um pouso suave" da economia da China. Os especialistas temem que o "super aquecimento" do gigante asiático piore o cenário de inflação no Brasil, mas também ressaltam que um freio brusco traria impactos negativos para a balança comercial.
O governo chinês divulgou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 10,3% em 2010 - retomando o patamar de dois dígitos. O resultado surpreendeu o mercado e alimentou expectativas de que Pequim reforçará as medidas para controlar a inflação.
A economia brasileira está cada vez mais ligada ao que acontece na Ásia, especialmente na China, e a principal via de contágio é o preço das commodities, que sobe graças ao apetite dos asiáticos por matérias-primas.
"O forte crescimento da China costumava ser, inequivocamente, positivo para o Brasil, porque melhora a balança comercial. Hoje, por causa do cenário apertado para a inflação, a situação é bem diferente", acredita Monica Baumgarten de Bolle, economista-chefe da Galanto Consultoria.

No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) fechou em 5,91% no Brasil, bem acima da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O governo brasileiro vem tomando medidas para conter a evolução dos preços e, na quarta-feira, o Banco Central elevou os juros.

Cálculo do Bradesco aponta que, excluídos os alimentos, o IPCA teria subido menos de 5% em 2010. A "inflação das commodities" está ligada aos problemas climáticos em alguns países, à fuga dos investidores para esses ativos, e à forte demanda dos países emergentes, como a China.

Conforme a economista da Galanto, também há evidências de que começa a surgir na China uma "inflação de salários" - o que é algo novo para o país que é considerado o chão de fábrica do mundo. Nos últimos meses, grandes províncias chinesas concederam reajustes de salário mínimo acima de 20%.

Até agora, por causa do impacto da crise global, que elevou a capacidade ociosa das indústrias, o Brasil "importou" deflação, o que compensou o aquecimento do mercado doméstico. "Agora a China deve começar a exportar inflação para o resto do mundo", disse Mônica.

Boa notícia. Para os exportadores brasileiros, o forte desempenho da economia chinesa é uma boa notícia. No ano passado, o país asiático se firmou como o principal cliente do Brasil, absorvendo 27,9% dos embarques. Minério de ferro, soja e petróleo responderam por mais de 80% das exportações para a China.

A demanda chinesa por commodities também traz um efeito indireto para o Brasil: eleva os preços da maior parte dos produtos que o País vende para qualquer lugar do mundo. Em 2010, os produtos básicos responderam por 44,6% das exportações, superando os manufaturados pela primeira vez desde 1978.

Os termos de troca (diferença entre os preços dos produtos exportados e importados) do Brasil estão em nível recorde. De acordo com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), em Dezembro, esse indicador estava 17% acima do ápice atingido em Agosto de 2008, antes da crise.

Graças aos termos de troca bastante positivos, o Brasil conseguiu superavit de US$ 20,3 bilhões na balança comercial em 2010, que ajudou a amenizar o déficit em transações correntes.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o governo chinês vai se esforçar para manter a inflação controlada, o que significa preços de commodities mais moderados, que vai se refletir na balança comercial brasileira. A média dos analistas de mercado projeta superavit de US$ 9 bilhões este ano.

Milho: Preços precisam superar picos de 2008 para segurar demanda


A consultoria Macquarie disse nesta sexta-feira que os preços do milho precisam subir ainda mais, ficando acima dos picos registrado em 2008. A necessidade surge frente a um cenário de os estoques apertados quase incapazes de atender a demanda recorde, liderada pelos consumo de alimentos na Ásia e pela produção de etanol a base do cereal nos Estados Unidos.

Em meio a um ano em que o aumento nos custos dos alimentos refletindo as ajustadas reservas mundiais promove a volta do que os bancos chamam de "agflation", a Macquarie afirma que sua expectativa é de que o milho lidere a carga de cotações em alta no mercado mundial de grãos. Os preços do milho devem superar as altas de 2008 com o intuito de promover um racionamento na demanda em uma escala sem precedentes desde a temporada 1995/96.

O estimado é de que os valores do milho alcancem os US$7,50 bushel no segundo trimestre do ano, que foi o maior patamar alcançado em 2008, e ficar próximo dos US$6/bushel em 2012, com os produtores se esforçando para recompor os estoques, com uma maior oferta pressionando o mercado.

"A combinação da crescente demanda da Ásia por alimentos e mais a produção recorde de etanol nos EUA está superando a capacidade da produção mundial de milho", informou a consultoria, que estima ainda que os estoques podem estar ainda menores do que os números reportados pelo USDA.

Essa previsão vem depois do Conselho Internacional de Grãos ter reduzido, nesta quinta-feira, sua estimativa para a produção mundial de milho para 809 milhões de toneladas. Para o uso industrial, devido principalmente ao aumento da produção de etanol nos EUA, a previsão da Macquarie é de 231 milhões de toneladas - um aumento de 3 milhões de toneladas. Isso reduz os estoques norte-americanos a menos da metade da última safra, ficando em 19 milhões de toneladas.